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Entrevista com Faith Dickey
Entrevista com Faith Dickey
Na entrevista com Faith Dickey, provavelmente a highliner mais reconhecida na comunidade, procurámos descobrir como ela vê o mundo do slackline, do highline do freesolo. Como vê a comunidade feminina, quais foram as maiores vitórias e quais são os sonhos.
Entrevista com Faith Dickey
AS PERGUNTAS E AS RESPOSTAS
Como e quando conheceste o slackline e o que te motivou para começar a praticar?
Descobri o slackline num parque quando tinha 19 anos. Eu pensei que era impossível quando fiz a primeira tentativa. Algumas semanas depois, tentei novamente, e depois de dar alguns passos, de repente, percebi que não era tão dificil. O mais me motivou foi ver que a pessoa que montou a linha parecia estar a divretir-se muito, o que me encorajou. Como tinha tempo livre, entre os empregos, e queria estar fora de casa, comecei a praticar slackline.
Podes tentar descrever como é a sensação de praticar highline e como ela muda ao longo do tempo?
A primeira vez que experimentei highline a experiência foi muito intensa. Senti que minhas capacidades como slackliner desapareceram. Eu nunca pensei que teria medo da altura, mas uma vez na highline parecia tudo mudou. Meu corpo limitava-se a tremer. Era quase como se fosse estivesse a receber mais informação do aquela que era capaz de absorver. Eu agora sei que foi uma descarga de adrenalina como eu nunca tinha experimentado antes.
Com o tempo, depois de praticar com frequência, as linhas se tornaram menos assustadoras. já me sentia capaz de olhar para tqualquer highline como um desafio físico e mental, mas o medo da morte foi desaparecendo. O medo em si ainda pode estar presente, mas é muito mais um medo do fracasso. Depois de quase 10 anos, eu não sinto o mesmo medo, excitação ou prazer que senti nas primeiras highlines. Eu ainda gosto e busco isso, mas sinto-me ansiosa por experimentar novas atividades. Highlining foi toda a minha vida durante 5 anos e, naturalmente, fiquei um pouco esgotada. Eu tento fazer mais projetos que combinam outros desportos, como escalada e alpinismo, para manter o desafio estimulante e interessante.
No freesolo, como é o processo que vai da ideia até ao momento de subir para a linha?
A ideia surge se a própria linha é realmente fácil de andar, se não requer muito pensamento ou esforço. Nesse caso, eu me pergunto “Como é a sensação de fazer isto sem segurança?” A partir desse momento eu ando na linha com menos e menos segurança; começando com um cinto de swami, depois uma leash nos tornozelos. São as últimas caminhadas com a leash no tornozelo que me dizem se estou confiante e estável o suficiente para o desafio. O momento de me comprometer vem quando estou na linha em chongo mount, mas levantar-me é o compromisso final. É fácil subir para uma linha quando estou sentada nela, mas levantar-me sozinha significa que eu tenho que fazer um catch ou sentar-me para desistir, e esse movimento em si é assustador, quando não há leash. Não faço isso com frequência, mas quando faço isso, certifico-me de que sou 100% capaz de superar o desafio com segurança.
Qual foi a tua maior vitória no Slackline?
A minha maior vitória foi provavelmente o início do Womens Highline Meeting (formalmente chamado de Girls Only Slackline Festival). Mesmo que eu não possa receber o crédito por mais mulheres terem entrando no highlining, eu sinto que o festival chamou a atenção para as mulheres que praticam highline, e ajudou a cultivar a ideia de que é normal que as garotas participem!
As minhas outras grandes vitórias incluem manter o mesmo recorde de highline que os homens, por algum tempo, (quando 67m foi o recorde haha) ainda por cime depois de apenas 6 meses de highlining. Eu também fui a primeira mulher a quebrar a distância de 100m numa highline.
Mas, talvez a maior vitória de todas tenha sido o sucesso do slackline na minha carreira, nos últimos 9 anos :)m mas, infelizmente, é um pouco perigoso devido às tensões necessárias para uma boa trickline. Eu substituí o trickline tradicional pelo trick no highline.
O que é que o slackline mudou na tua vida e o que acrescenta à tua rotina?
Slacklining (e highlining em particular) ensinaram-me que eu posso fazer o que eu quiser, se eu trabalhar duro o suficiente para isso. Hoje em dia, estou tentando descobrir exatamente o que quero para poder fazer exatamente isso!
O desporto em si mudou o meu rumo na vida, levou-me a alguns dos lugares mais bonitos do mundo e ajudou a desenvolver o meu amor pelo ar livre. Também me apresentou alguns dos meus amigos de longa data. Mostrou-me a importância da meditação e introduziu-me aos conceitos de mindfulness.
Como mulher, para alguns um espécie de miss slackline, como vês a comunidade e como te sentes, sendo um símbolo desta?
A comunidade cresceu muito desde que comecei e, para ser sincera, agora sinto-me menos “parte dela” do que nunca. Eu acho que vai ter muitos ciclos de crescimento, e eu acho que é melhor ser mais um símbolo do que estar na comunidade intensamente como antes. Eu vejo meu próprio papel como líder pelo exemplo, que gênero não tem nada a ver com habilidade, que a paixão é suficiente para alcançar qualquer coisa, e que as mulheres podem fazer o que sonham.
Às vezes preocupo-me com o fato de a comunidade se fixar demais em records, números e social media. Este não é apenas um problema da comunidade slackline, é um problema do mundo de hoje. Agora todo mundo quer uma identidade on-line, e há muito “olhe para mim” que parece ter-se infiltrado, também, na nossa comunidade. Como atleta profissional, tenho que usar social media para conseguir trabalho e patrocínios, mas para mim não é um prazer.
Talvez eu não entenda por que tantas pessoas querem fazer isso de graça. O que eles podem não perceber é que, depois de terem criado uma persona online, também criaram uma pressão para manter essa persona, e isso pode desvirtuar as razões puras que impulsionaram o slacklining, em primeiro lugar.
A minha outra preocupação com a comunidade é a falta de consciência. A maioria dos participantes de slackline vem de origens privilegiadas, e muitos parecem pensar que os problemas do mundo real, como o sexismo e a desigualdade, de alguma forma não existem no nosso pequeno microcosmos. Infelizmente, esse não é o caso, e espero que a comunidade perceba que temos que nos esforçar para sermos justos como qualquer outro grupo.
Os pontos positivos da comunidade que eram verdadeiros quando comecei e permanecem assim, é que tens amigos em todo o mundo graças ao amor compartilhado pelo slackline. Isso é especial.
Vês algum motivo que possa justificar a diferença entre o número de homens e mulheres no slackline? Se tivesses o poder, mudarias a comunidade ou a promoção do slackline de alguma forma, de modo a ser mais atraente para as mulheres?
Os problemas relacionados com o número de mulheres participantes não são exclusivos do slackline. Eles existem em todos os desportos ao ar livre. Há tantos fatores envolvidos, mas é preciso apenas olhar para a história para perceber que temos um longo caminho a percorrer até que sejamos iguailitários. Há apenas 50 anos, esperava-se que as mulheres ficassem em casa, cozinhassem e cuidassem das crianças.
As mulheres precisam de modelos femininos. As mulheres precisam ver outras mulheres fazendo estas coisas. Se cresces numa sociedade sem ver mulheres a particar determinada atividade, é difícil desenvolver a mentalidade de que é algo que podes fazer. Está a mudar devagar.
Se eu pudesse mudar alguma coisa, seria como as mulheres são representadas. Há muito menos representação nos social media de mulheres que fazem slackline e highline, e grande a parte dos meios que existem mostram que as mulheres “parecem bem” em vez de “serem boas”. Se as mulheres fossem celebradas pelas suas conquistas e exclusividade, em vez de serem fotogênicas ou sexys, elas encorajariam muito mais mulheres a entrarem e a experimentar. Precisamos de ter um sistema de valores que seja equitativo. Os homens são representados nas highlines pelas suas habilidades, e devemos manter as mulheres no mesmo padrão.
Além disso, os homens precisam de ser aliados das mulheres. Eles precisam de colocar o equipamento nas mãos das meninas, e LET THE RIG. Ensinem as mulheres a criarem as suas próprias linhas, para que possam ensinar outras mulheres. Coloquem equipamentos nas mochilas das meninas, eles também podem carregar coisas. Precisamos parar de perpetuar os papéis das mulheres como mais fracas.
Porque achas que qualquer mulher deve fazer slacklining e o que dirias para as que talvez já tenham a vontade de experimentar, mas por qualquer motivo, não o fizeram?
Diria que nós somos o nosso maior obstáculo. Que não se comparem com os outros. Tentem até não dar mais e depois voltem a tentar.
Atravessas-te realmente uma linha entre dois camiões?
O que achas mais assustador, Free soloing, highlining de saltos altos ou Ted Talking e por quê?
PROFILE DA FAITH DICKEY
Nome: Faith Dickey
Nacionalidade: USA
Idade: 29
Profissão: Highliner profissional
Deuter, Big Agnes
- Highline – 105m
- Free Solo – 28m (Female World Record Solo Highline)